quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

A Reforma da Previdência e os MEIs

O Governo enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) nº 287, que trata da reforma da Previdência Social. A iniciativa seria louvável, não fossem alguns aspectos a serem considerados.
Primeiramente, a Previdência Social oferece o único plano de aposentadoria no qual o incauto, também denominado contratado, se obriga a pagar rigorosamente em dia as prestações, enquanto o contratante se reserva o direito de alterar as cláusulas unilateralmente, a seu bel prazer e sem consultar o contratante, durante o curso do contrato. Em outras palavras, é o único contrato do qual o otário que o assinou não tem nenhuma segurança jurídica, um dos princípios basilares do Direito.
Com isso, queremos dizer que a reforma poderia propor que a aposentadoria voluntária poderia ser concedida somente aos maiores de 90 anos, desde que com autorização dos pais. Mas para os novos babacas que firmarem o acordo. Assim mesmo, a besta que se arriscasse numa armadilha dessas deveria ter a opção de aderir ao programa, ou não. Quem já assinou o contrato e está pagando rigorosamente em dia as prestações deveria ter garantido o direito de aposentar-se conforme as cláusulas da época em que assinou o contrato.
Segundamente, o projeto não contempla, ou seja, não torna justa, a aposentadoria dos 6.502.138[1] MEIs. Para quem não sabe, MEI é a designação dada a empreendedores de micronegócios, tais como camelôs, vendedores de picolé, lavadores de carros que faturem um máximo de 6 mil reais por mês. São chamados impropriamente de Microempreendedores Individuais (MEI) mas, na verdade, não são micro p... nenhuma. Mais apropriado seria denominarem-nos detentores de microempreendimentos individuais. Trata-se de gente honesta e trabalhadora, pessoas de estatura mediana, mas os sacripantas ocupantes do Congresso Nacional, com sua mania de gandeza, têm o costume de diminuir todo cidadão de bem. Por isso os alcunharam de micro
Esses camelôs, vendedores de picolé, lavadores de carro, por apenas 45 mirréis por mês, contam com diversos benefícios, inclusive aposentadoria e auxílio-doença. Claro que essa aposentadoria e esse auxílio doença serão pagos pela Previdência Social. O valor mensal, durante 35 anos, é equivalente a cerca de dois anos de salário mínimo. Isso equivale dizer que esses profissionais, (ressalte-se que se trata de pessoas honestas e trabalhadoras) têm o direito de pagar dois anos de salário mínimo e receberem esse mesmo valor durante o resto de suas vidas, quando (e se) alcançarem os requisitos para aposentadoria. Por menos do que isso, os demais trabalhadores, têm que desembolsar pelo menos 70 pratas, e seus patrões, no mínimo, outros 100 mirréis.
E eles não pediram isso, foi o Governo que ofereceu esse presente, sem nenhuma reivindicação, nenhuma manifestação pública pacífica e ordeira ou com depredações e vandalismo. Apenas o Governo maravilhoso, que teve seu mandato de 2003 a 2011, teve a brilhante ideia de melhorar os números da economia, incluindo uma atividade já existente, e que já movimentava bilhões de reais por ano. Na nossa terra, isso era chamado de “fazer cortesia com o chapéu alheio”[2].
Terceiramente, trataremos em outro post. Este já ficou muito grande.





[1] Em 3 de dezembro de 2016, conforme dados disponíveis no Portal do Empreendor: <http://www.portaldoempreendedor.gov.br/estatistica/lista-dos-relatorios-estatisticos-do-mei>. Acesso em 7 dez. 2016
[2] Foi utilizada a forma antiga do provérbio português cuja expressão, atualizada (“ter orgasmo” com o “membro viril” dos outros), não ficaria apropriada num blog da qualidade deste.

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