As manifestações deste domingo, 4 de dezembro, oferecem
oportunidade para reflexões interessantes. Primeiro, que não compareceu gente
suficiente para traduzir toda a indignidade que se queria demonstrar. Era para
aglutinar milhões de brasileiros, mas só muitos milhares foram às ruas.
Outro aspecto: o efeito didático. Há fortes evidências de
que o "povo em geral" queria ensinar à outra turma como se organiza
uma manifestação contra o governo. Domingo, para indicar que os participantes
são todos trabalhadores. Pelo mesmo motivo, não causou maiores transtornos a
quem optou por abster-se, portanto, foi mais simpática. Foi fartamente decorada com as cores e a bandeira do
Brasil, para demonstrar que se tratava de um ato patriótico. Foi pacífica. A
polícia apenas assistiu, sem necessidade de interferir.
Nesse particular, é forçoso reconhecer que tudo isso oferece
motivos para a outra turma firmar seu entendimento de que os "bandalheiros" são “agentes
infiltrados”, com a finalidade de denegrir seu movimento.
Ora, o ordenamento jurídico brasileiro estabeleceu que a
responsabilidade pelo dano é caracterizada por aspectos subjetivos, o dolo e a culpa. Há dolo quando o agente teve
a intenção de alcançar o resultado. Portanto, se a outra turma não queria
vandalismo durante suas manifestações, é inocente pelas depredações ocorridas
na última terça-feira, 29 de novembro. Culpa, é quando, ainda que não haja a
intenção, há uma consequência danosa para alguém. Nesse caso, se a bandalheira
foi mesmo praticada por “agentes infiltrados”, a turma do dia 29/11 tem culpa,
por não ter conseguido anular a ação daqueles malfeitores.
Finalmente, as manifestações de 29/11 e 4/12 demonstraram
que há dois grupos querendo salvar um navio prestes a afundar. Cada um deles
propõe uma metodologia diferente e discorda com a do outro. Cada um desses
grupos defende um grupo diferente de malfeitores da pátria, e condena os
defendidos pelo grupo rival. E, enquanto cada facção vai pondo a culpa pelas suas
mazelas na outra facção, os abutres vão aguardando o momento de resgatar os
corpos e se apoderar da carga.
É de se imaginar que Deus, na sua infinita sabedoria, assistindo
a tudo, faça como Pilatos.
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